Uma organização criminosa especializada em fraudar concursos públicos foi desmantelada em uma operação da Polícia Federal. A investigação revelou um esquema sofisticado, operado como uma empresa familiar, que cobrava até R$ 500 mil por vagas em cargos públicos.
O grupo, sediado em Patos, no Sertão da Paraíba, utilizava tecnologia avançada para burlar a segurança dos concursos. As fraudes incluíam o uso de dublês, implantes cirúrgicos de pontos eletrônicos e comunicação em tempo real durante as provas. Os valores cobrados variavam de acordo com o cargo e a dificuldade do exame, com pagamentos aceitos em dinheiro, ouro, veículos e até serviços odontológicos.
De acordo com a Polícia Federal, o esquema era liderado por Wanderlan Limeira de Sousa, um ex-policial militar expulso da corporação em 2021. Wanderlan é apontado como o principal articulador da quadrilha, responsável por negociar com os candidatos, coordenar a logística das provas e distribuir os gabaritos. A investigação aponta que o grupo atuava há mais de uma década, vendendo aprovações, corrompendo fiscais e utilizando mecanismos de fraude e falsificação para garantir cargos de alto escalão.
As fraudes alcançaram concursos da Polícia Federal, Caixa Econômica Federal, Polícias Civil e Militar, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Banco do Brasil e até o Concurso Nacional Unificado (CNU). Wanderlan, líder da quadrilha, possui um extenso histórico criminal, que inclui homicídio, peculato, concussão, roubo majorado, abuso de autoridade e uso de documento falso.
Após ser expulso da PM, ele chegou a ser aprovado em um concurso para técnico do Seguro Social. Em 2024, voltou a prestar provas, incluindo o concurso do Banco do Brasil e o CNU. Segundo a PF, Wanderlan teria se inscrito no CNU para demonstrar a eficiência do sistema de fraude, sendo aprovado para o cargo de auditor fiscal do trabalho, com salário inicial de R$ 22,9 mil, mas não compareceu ao curso de formação.
Para manter o esquema, Wanderlan contava com o apoio de familiares. Irmãos, cunhada e sobrinha ocupavam funções distintas dentro da organização, atuando para atrair novos interessados e reforçar a ideia de que o método era infalível. Além da família Limeira, a PF identificou outros possíveis integrantes, incluindo um policial militar e o dono de uma clínica odontológica suspeita de lavagem de dinheiro. Uma advogada também é suspeita de participação em diversas fraudes.
Uma das principais evidências é a análise dos gabaritos do CNU 2024, onde quatro candidatos apresentaram respostas idênticas, inclusive nos erros, em provas de tipos diferentes. A probabilidade de tal padrão ocorrer por acaso foi comparada à chance de ganhar na Mega-Sena várias vezes consecutivas. O grupo utilizava pontos eletrônicos, mensagens codificadas e comunicação externa para repassar as respostas durante as provas. A Polícia Federal identificou movimentações financeiras incompatíveis com a renda dos suspeitos, além da compra e venda fictícia de imóveis e o uso de “laranjas” para mascarar o pagamento de propinas.
Fonte: g1.globo.com