O cálculo da inflação na Argentina ainda se baseia em hábitos de consumo da década de 2000, distanciando-se da realidade atual e impactando a precisão dos indicadores econômicos. A metodologia utilizada para o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), indicador oficial da inflação, tem como referência principal uma pesquisa realizada entre 2004 e 2005.
Apesar de ajustes pontuais em 2016, a estrutura do índice não passou por uma reformulação completa, o que significa que o IPC ainda reflete o consumo de jornais impressos, DVDs e linhas telefônicas fixas, enquanto ignora despesas com serviços de streaming, aplicativos de transporte e compra de smartphones.
Essa defasagem pode estar distorcendo a real inflação no país. Especialistas apontam que uma atualização da cesta de produtos utilizada no cálculo poderia elevar os números oficiais. Embora o governo de Javier Milei tenha conseguido reduzir a inflação nos últimos meses, atingindo o menor nível mensal em 5 anos, a credibilidade dos dados é questionada devido à metodologia desatualizada.
O Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) está finalizando um novo índice nacional de preços, com base em dados mais recentes. A reformulação, que já foi concluída tecnicamente, deve ser anunciada até o final do ano e incluirá a Pesquisa de Despesas Familiares de 2017-2018.
Espera-se que a nova metodologia incorpore um total de 500 mil preços monitorados, em comparação com os 320 mil atuais, e aumente o número de estabelecimentos que fornecem os dados de 16,7 mil para 24 mil. Além disso, o processo será digitalizado.
A mudança pode ter implicações significativas para o governo Milei. A eventual elevação dos índices de inflação após a atualização da metodologia poderia afetar a popularidade do presidente, especialmente em um ano de eleições de meio de mandato. Há também o temor de que a oposição use politicamente os novos dados.