A Petrobras sinalizou um possível retorno ao mercado de distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP), o popular gás de cozinha, após aprovação do conselho de administração em agosto. A estatal planeja integrar essa operação com outros negócios, tanto no Brasil quanto no exterior, e oferecer soluções de baixo carbono.
A medida ocorre após a saída da Petrobras deste mercado durante o governo anterior, com a venda da Liquigás. Atualmente, a empresa produz o GLP, mas a revenda é feita por distribuidoras privadas.
Ainda não está definido se a Petrobras retomará a venda direta ao consumidor, com entrega de botijões, ou se atuará como distribuidora, competindo com as empresas privadas que hoje compram o gás da estatal.
A decisão surge em um momento de insatisfação do governo federal com o preço do botijão no país. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já criticou publicamente a diferença entre o preço do gás na refinaria e o valor final pago pelo consumidor.
Apesar do otimismo de alguns especialistas, que acreditam em potencial redução dos preços, há preocupações no mercado. Estrategistas ponderam que a decisão pode ser interpretada como uma medida política, em vez de econômica, e temem que decisões estratégicas da empresa passem a ter peso político, prejudicando a estatal.
Até 2020, a Petrobras atuava na distribuição de gás de cozinha através da Liquigás. A empresa, responsável pelo envase, distribuição e comercialização do GLP, foi privatizada por cerca de R$ 4 bilhões.
O preço médio do botijão de 13 kg no Brasil é de R$ 107,82, incluindo custos de produção, impostos e margens de lucro da distribuição e revenda. Em 2022, quatro empresas concentravam a maior parte do mercado de distribuição de GLP no Brasil.
O setor de distribuição de GLP recebeu o anúncio com surpresa, mas não vê uma ameaça significativa à concorrência. O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo acredita que a entrada da Petrobras terá impacto limitado sobre a concorrência ou os preços, e que a principal forma de reduzir custos é aumentar a eficiência logística.
Analistas ressaltam que o impacto na competitividade dependerá do modelo de atuação da Petrobras. A volta da empresa ao mercado de GLP é vista como viável, mas gradual e custosa. Um cenário possível seria a compra de outra distribuidora relevante, o que demandaria um investimento significativo.